una vita veloce

...vai, mais rápido, apoteose da civilização.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

So long... and thanks for the crutches

just enough freedom to forget you’re a slave,
just enough anger to make sure we get paid
easy does it baby don’t lose your head — cause we both know
that ideals don’t sell come now pass us the saccharin
part 1 then part 2 who knew you had it so easy
hit it hit it we’ll go straight to the top
it's all a matter of whose cock you suck
we got the money hey come on lets go ha!
you know you want it hey!
you know you want it (well c’mon)
shake it like a rebel just don’t cross any lines
cause family god and country are back in style
sex drugs and politics are fine — just remember
that we own you, we bought you, and we’ll sell you whenever we want to
we brake your legs and you will thank us for the crutches
we wanna fuck but we end up kissing
is this still rock cause the danger is missing
you gotta feed it gotta feed your addiction
so pack a lunch for the next crucifixion
you wanna feel the applause?
you wanna win at all cost?
well you better learn to play nice and eat shit like a dog!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ignorance spare us the pain?

Júlia tampouco tinha interesse pelas ramificações da doutrina do Partido. Sempre que ele começava a falar dos princípios do Ingsoc, duplipensar, a mutabilidade do passado e a negação da realidade objetiva, e a usar palavras da Novilíngua, ela ficava aborrecida, confusa, e dizia não ter jamais prestado atenção a esse tipo de coisa. Sabia que era tudo lixo, portanto para que se preocupar com isso? Sabia quando aplaudir e quando vaiar, e era toda a ciência de que precisava. Quando ele persistia em falar de tais assuntos, Júlia tinha o hábito desconcertante de adormecer. Era uma dessas pessoas que podem adormecer a qualquer momento, em qualquer posição. Falando com ela, Winston percebeu como era fácil aparentar ortodoxia, sem ter a menor noção do que fosse ortodoxia. De certo modo, o ponto de vista do Partido se impunha com mais êxito às pessoas incapazes de compreendê-lo. Aceitavam as mais flagrantes violações da realidade porque jamais percebiam inteiramente a enormidade do que se lhes exigia, e não estavam suficientemente interessadas para observar o que acontecia. Graças à falta de compreensão, permaneciam sãs de juízo. Apenas engoliam tudo, e o que engoliam não lhes fazia mal, porque não deixava resíduo, do mesmo modo que um grão de milho passa, sem ser digerido, pelo corpo de uma ave.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Discursos e suas repercussões

Chegou o momento de voltar a escrever. Enquanto não recupero o fio da meada, preencho esse pequeno espaço virtual com um trabalho do ano passado, época na qual a universidade preenchia minha atenção.



A base do discurso articulado reside na população. A partir da coleta de diversas fontes, um autor lapida um assunto e elabora uma teoria, devolvendo-a após para o seu meio original. Essa transição de um discurso ingênuo, popular, para um discurso formalizado e, logo em seguida, seu retorno à sociedade, pode ser abordada e exemplificada de diversas formas.
O fato de uma pessoa possuir a sensibilidade necessária para abstrair da sociedade algum aspecto relevante a estudos não o faz necessariamente mais inteligente que o resto da população. A palavra certa para definir a qualidade deste indivíduo talvez seja perspicácia. Na verdade, aquilo abstraído já fazia parte da consciência de alguma parcela da sociedade. Ao captar aquele assunto, comum a alguns e novidade a outros, o autor apenas formaliza tal idéia. Esse processo de apuração, desenvolvimento e devolução à sociedade é caracterizado como a legitimação do discurso, o aval do qual a parcela da população que desconhecia um aspecto em particular necessitava para conhecê-lo e, assim, aceitá-lo ou não.
É possível exemplificar tal acontecimento a partir das propagandas políticas que ocorrem de 2 em 2 anos aqui no Brasil. Muitas pessoas não se simpatizam com as idéias e propostas de José Serra, por exemplo. A partir da inclusão da atriz global Regina Duarte durante o tempo de Serra na televisão, no entanto, a situação tende a mudar. A atriz exercita o discurso pró-Serra e anti-Lula, defendendo o candidato do PSDB e acusando o do PT, além de proferir a célebre frase "eu tenho medo", referindo-se a um possível destino apocalíptico que o país enfrentaria caso Serra não fosse eleito. Essa aparição da atriz, dona de respeito perante a sociedade, legitima o discurso pró-Serra, possivelmente trazendo mais eleitores para seu lado. É como um selo do Inmetro, assegurando que aquele produto pode ser utilizado por crianças pequenas sem problema algum. Isso demonstra a possível manutenção da opinião popular por meio de figuras carimbadas, sejam elas do mundo artístico ou de qualquer outro universo de grande apelo.
Outro bom exemplo deste movimento de ir e vir do discurso é o próprio hype. O hype se caracteriza pela vanguarda da moda, a origem de uma tendência que ao fim de um processo irá se popularizar. É comum enxergarmos diversas novidades pouco exploradas envolvendo vestimentas, acessórios, tendências musicais, etc. Assim sendo, tomemos como exemplo um hipotético falatório sobre o uso de tênis rosa em Tóquio, no Japão. Um grupo de artistas passa a usar calçados dessa cor pois ela transmite um dos diversos aspectos de seus trabalhos. Os fãs desse grupo, como todo bom fã, tendem a imitar seus ídolos, e também começam a usar o tal do tênis rosa. Ainda assim, uma parcela ínfima da populaçao tem conhecimento desse burburinho. Em um outro dia, a Nike toma ciência dessa tendência e, no mês seguinte, lança uma campanha publicitária com o seguinte mote: "Nike Pink 2000, apenas use". A partir disso, o hype do tênis rosa passa a ser uma moda, agora representada por um órgão legitimador de opiniões, no caso a Nike.
Não obstante, é possível falar também de inúmeros movimentos sócio-culturais e seus desdobramentos. Vemos cada vez mais alguns autores considerados subversivos e atípicos, que causavam estranheza à maioria da população, sendo massificados e absorvidos pelo senso comum, como são os casos de Charlie Bukowski e Nelson Rodrigues. O punk e o emo também são bons exemplos de como um movimento/tendência pode alcançar proporções inimagináveis. Sendo o punk a princípio um movimento social com repercussão musical, é possível dizer que ele teve seu ideal diluído em prol da manutenção de uma estética: o moicano, o jeans rasgado, a atitude "do it yourself". Já o emo, um estilo musical derivado do hardcore, foi massificado e associado à pessoas com franjas no rosto, à choro pelos cantos e à toda uma vestimenta padrão. Esses são casos em que há a apuração de um acontecimento, o desenvolvimento de toda uma idéia em cima dele e, então, sua devolução para o lugar da onde veio, com toda essa carga massificante por detrás. Cabe então aos poucos que já tinham ciência de tais nichos, defenderem sua autenticidade perante essa onda de diluições e deturpações, mantendo ao menos uma parcela do que aquilo já foi um dia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Epifania - Cap. I

TOPO DE UM PRÉDIO QUALQUER - CREPÚSCULO DE SÁBADO (presente)

Ao esboçar seus primeiros sorrisos o Sol ofuscava a visão de Emanuel, sentado no parapeito do prédio fumando um cigarro com a garrafa de whisky a tiracolo. Seu revólver, empunhado em sua mão esquerda, já não possuía mais balas e isso de forma alguma era uma coisa ruim. A noite havia sido exaustiva porém prazerosa. Seus dedos haviam encontrado uma terapia adequada à sua inquietude.
Atrás dele, um rastro vermelho desenhado pelos seus inúmeros ferimentos. Uma mala com muitas armas, todas sem munição, descansava nas proximidades de sua poça de sangue. No seu semblante a mais pura tranquilidade. Não havia mais obstáculos, não havia mais dor.


CENTRO DA CIDADE - FIM DE TARDE (6 meses atrás)

(Emanuel narra)
- Mais um pouco de tinta no papel, mais um pouco de sangue no chão. Qual a função do homem na sociedade moderna? Viver para trabalhar, trabalhar para viver? Fazer churrascos aos fins-de-semana e chamar uma corja de amigos infiéis para ver o futebol em minha casa? Casar, ter filhos, passear com o labrador pelas ruas do bairro, recolher suas fezes e ser um bom cidadão? Bem, eu faço tudo isso. Onde estou? Aparentemente vivo mas essencialmente morto. Mesmo assim, o crescimento demográfico da mediocridade não me ameaça mais. Me encontro em uma alcatéia de animosidades prematuras, rodeado de falsas promessas e discursos levianos.

Emanuel, um rapaz aparentando cerca de 25 anos, rosto marcado pela repetição de sua vida urbana, veste um terno preto básico. Seu cabelo já está completamente povoado pelos fios grisalhos, resultado de sua incessante busca pela coerência. Caminhando por ruas movimentadas com a cabeça baixa e o cigarro sempre em sua boca, alcança com o olhar uma placa discreta dizendo "Zu". Havia finalmente encontrado o local que procurava.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O Vento Elétrico pt. I

Nunca vi homens de lantejoula enfrentarem ventos elétricos. Nunca quis sentir resíduos arderem em minhas chamas, por isso eu ando. Eu ando para onde o tempo apontar, senhor de minha vida veloz, onde minhas ações independentes desejam ir? Sou espontâneo, ajo pelo tato, pelo ar, aonde a eletricidade perseverar, lá estarei. Pois para qualquer tremor em minha brisa, de uma coisa eu tenho certeza: a corrente consome o brilho.

Minha versão bexiga.


Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar. Vou ler, vou escrever. Vou criar, vou trabalhar.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Preguicite aguda!

Nunca fui de ver muito sentido em palavras. Ultimamente então, posso afirmar que minha leitura padrão é uma leitura leviana. Não absorvo praticamente nada daquele conteúdo escrito se eu de fato não estiver totalmente concentrado e ligado no que gosto de chamar "Modo Desesperado Rush Hour". Sendo mais objetivo e prático, só consigo me concentrar quando estou na urgência da leitura, ou seja, na véspera de uma prova ou após aquele presente de Natal fazer 1 ano em minha prateleira. Esta tremenda dificuldade, somada à minha constante e eterna preguiça, são duas de minhas grandes decepções mundanas. Tanta ânsia por saborear as grandes obras e conhecer as variadas correntes socio-filosóficas e tão pouco empenho.



MY WEEZER LIFE.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Eu, Eu, Eu.

Tenho de aceitar que as pessoas não são iguais a mim. Sempre me esforcei em acreditar que minhas concepções de mundo seriam as mais coerentes, abrangentes e quiçá agradáveis. Na verdade continuo achando isso. Salvo obviamente todos os meus defeitos que, por ventura, venham a corroer estas idéias de alguma forma, elas são sim muito bem construídas. A questão é que não consegui, mesmo com tantos anos nas costas, digerir a pluralidade de jeitos e maneiras que existem por aí. Eu sei, a graça do mundo está em sua diversidade socio-cultural. Mas às vezes me sinto tão incompreendido e solitário que realmente indago: existe algum outro Bruno por aí? Se sim, levante a mão rapaz! HIGH FIVE pra você! Poderíamos trocar uma idéia um dia desses huh? Garotão!


sexta-feira, 8 de junho de 2007

1994, 1995?

Em um período da minha vida eu tive uns 5, 6 anos de idade. Eu estava na praia, saudosos tempos de Guarujá, areia dentro da sunga, 15 pessoas dormindo no mesmo quarto, aquela coisa toda. Um certo dia minha turminha praiana resolveu ir além do recomendado por papai e mamãe, chegar ao fundo do mar. Na época, mais do que hoje, achava que era invencível. A água não era nossa amiga? Não bebíamos ela para sobreviver? Qual o problema então de abraçá-la em sua totalidade? Pois então, fomos lá, três crianças com suas vidas potencialmente em risco desbravar um terreno até então desconhecido por nós. Meus amigos, um pouco mais velhos do que eu, haviam se contido na exploração. Eu, ingênuo até os mais obscuros de meus ossos, fui um pouco além do que minha fisionomia permitia. Rapidamente fui derrotado. O desespero não era grande, não havia consciência do que estava acontecendo, apenas me deixei levar por aquela sensação de novidade inquietante. O Sol, mesmo debaixo d'água, me ofuscava a visão. A água entrava por minha boca incessantemente, da onde surgira tanta água? As forças se esvaíam, aos poucos ia me entregando à Natureza. Subitamente, um vulto me agarrou. Não vi da onde, quem era ou o quê era. Apenas senti um forte aperto e um puxão me tirou daquela situação desconcertante. Ao 'acordar' daquele susto, olhei ao meu redor e não havia ninguém por perto. Se eu tivesse que acreditar em forças divinas durante algum momento de minha vida, este fato seria minha estrela-guia.



Venho descobrindo que muita coisa que eu tenho ouvido ultimamente tocou no Brasil nos últimos 3, 4 anos. Maravilha!

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Bruno no planeta dos Homens.

Meticulosamente despreparado e desritmado, fui lá me aventurar pela terra dos homens. Entre arranhões e tapas na nuca, esporas na gengiva e algumas tachinhas na bunda, comecei a tentar entender o porquê das coisas e a processar minha adaptação à essa nova velha vida. Pensava, "que desilusão a minha, nunca será diferente, nunca haverá iluminação em uma caverna soterrada". Mas havia, um feixe de luz rompendo o mais apertado dos corações, um sopro de rejuvenescimento em olhos tão desacreditados. Era uma experiência quase plástica. Deixando de lado inexperiências e dogmas tão antiquados, viajava pela antropologia sem medo do que encontraria nem receio do que pensaria. Me concentrava simplesmente na árdua peleja de acreditar. As mãos tremiam, o corpo tremia, a consciência tremia, mas o foco era constante. Sem mais desperdício de momentos, sem irregularidades de caráter. Naquele instante eu me ajoelhei e chorei. Era a redenção de uma alma sem pecados. Talvez a vida não viva, mas ela de fato ganhou mais alguns anos.

domingo, 13 de maio de 2007

múm

Uma experiência quase plástica. Viajava pela antropologia sem medo do que encontraria nem receio do que pensaria. Me concentrava simplesmente na árdua peleja de acreditar. As mãos tremiam, o corpo tremia, a consciência tremia, mas o foco era constante.


Quer saber, miei de escrever algo proto-encorpado! Vou é propagandear mais uma vez a bandinha islandesa que me capturou. Ao mesmo tempo que Múm me inspira, deixa minha concentração totalmente focada na música. Eu nem tenho capacidade de escrever qualquer coisa sobre eles. Sabe quando você percebe que não consegue comparar uma sensação à nada, que tudo que lhe vem à cabeça é pouco? Pois então. Vou até colocar o link direto pro download, pra ser simples e direto.


E eu sei que é difícil alguém baixar mas poxa, deixem-me idealizar por um instante ok?

sábado, 5 de maio de 2007

Minha luta.

Exijo poder gritar a hora que bem entender. Esta angústia por liberdade que me corrompe dia após dia se vê cada vez mais oprimida por fundamentos que infelizmente são pertinentes ao funcionamento de um grupo maior de pessoas. Porque tenho tendências coletivas em um ambiente não-familiar e tendências individuais quando cercado por meus parentes? Seria a perturbação acumulada por tantos anos, o incessante falatório, telefones tocando à todo instante, cachorros latindo fervorosamente, televisões em volumes desnecessários? Ou quem sabe o acesso restrito ao meu canto, meu utópico lugar de descanso, onde eu na teoria poderia fugir de um cotidiano massacrante e pouco produtivo. Talvez a intensa austeridade ignorante e arcaica de meu segmento patriarcal, quem sabe? Mesmo assim, fora de meu ambiente domiciliar, minha preferência por números sempre foi subestimada e, ao final das contas, sempre acabava por ter minhas ambições pessoais frustradas. Pude perceber que havia deixado minha individualidade a mercê da individualidade de terceiros e esse sim é o maior pecado que uma pessoa pode vir a cometer. Porém, fui EU que o cometi. Ao me deparar com diversas situações diferentes, eu decidi como encará-las, como digerí-las. Nunca poderei dizer que escolhi as melhores opções, as mais saudáveis, mas elas eram minhas, independentes de aprovações e permissões, e isso é o que realmente importa. Resumindo de forma quiçá banal: poder trilhar seu próprio caminho, não estar sujeito à intervenções alheias a seu desejo. Vejo então que a concretização de minha emancipação se dará pelo retomar das rédeas de minha vida. Sistemático que sou, poderia controlar enfim o processo de minha convivência com o arredor. Ou não? Isso, porém, já é discussão para um dia mais triste.



múm, banda islandesa de gênero pouco ou quase nada rotulável. Música boa para momentos em que precisamos de um chill-out, seja ele alegre ou melancólico. Tem vários álbums deles disponíveis para download no idioteq, depois dêem uma conferida.

domingo, 15 de abril de 2007

Crash

Eu, sempre mancando da vida, uma perna mais curta do que a outra. Mais uma vez me deparei com o quão posso, sempre que possível, ser essencialmente obtuso em minhas ações. Sabe quando você está indisposto a dançar e confraternizar uma música que não gosta, com pessoas estranhas te cercando por todos os lados, em um ambiente muitas vezes desconfortável? Hoje esse paradigma alcançou um nível curioso, quiçá intrigante. Estava lá eu, sendo requisitado a parar de chamar atenção negativa devido a meu persistente tédio, encostado no pilar enquanto todos quebravam as cadeiras. Dei início então, ainda relutando, ao meu Jam de dança, sem esperar coisa alguma do meu procedimento, afinal, ele nunca havia resultado em nenhum tipo de sucesso pós-moderno. Quando presto atenção, haviam alguns minutos já a música tinha acabado. A princípio este fato não me intrigou. Mero detalhe. A questão era que eu não havia parado. Persistia em meu um-pra-lá-um-pra-cá com absurda coragem. Era o único a fazê-lo no salão. Todos esperando a próxima canção, não eu! A intensidade de meus movimentos me comovia, de uma naturalidade fabulosa! Não havia ninguém, literalmente, que poderia se equiparar ao meu momento de transcendência, superando a gafieira, o maracatu, o funk e o electro. Oh Bruno, you give me heartattacks!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Mea culpa!

Protótipo de noite na obtusa zona noroeste da cidade de São Paulo. O trânsito é constante pois a população possui uma queda por voltar às suas casas. Burocraticamente, uma avenida qualquer curte a movimentação ao longo de sua extensão. Jogadores semi-profissionais se dirigem ao campinho de areia. O pagode ecoa por todo o quarteirão enquanto missionários evangélicos da igreja quadrada-elíptica-semi-circular se preparam para mais uma celebração ao príncipe da paz. O clima está agradável e não há muitos ônibus circulando para maltratar ainda mais os calos e crateras da já tão danificada cútis negra rodoviária. Uma bifurcação adiante desconhece a notável palestra de dramaturgia que iria observar em instantes.
Dois automóveis, trafegando junto ao fluxo, se estranham antes mesmo de se conhecerem. O trânsito se interrompe e o silêncio é ostracizado com o surgimento de inúmeras buzinas. Um conglomerado de pedestres foca sua atenção no espetáculo. Ambos os veículos ignoram qualquer resquício de cordialidade ainda presente no cotidiano e se encaram fervorosamente, rosnando um para o outro. Há ameaças de movimento inconcluídas. A inércia se rompe com advento de uma senhora, motorista de um dos carros. Ela dá inicio a um expansivo discurso sobre culpa e intenção, em plena via, gesticulando com eloquência. A platéia está confusa, a origem do desentendimento ainda é uma incógnita, mas quem se importa, "Queremos ver sangue". Porém, é do outro carro que brota o possível messias deste impasse, um rapaz de óculos sustentando uma espécie de pé-de-cabra em suas mãos. Que virilidade! O homem analisa a integridade de seu veículo minuciosamente e dispara um olhar mortífero contra sua algoz. Assustada, ela recua em prol de sua segurança. O outro, ainda sustentando uma postura ofensiva porém pouco messiânica, também retorna à seu automóvel. Os espectadores se desapontam.
Mas, logo em seguida, uma nova crise se instaura. Quem iria mover seu veículo primeiro? Não seria possível decidir isso simplesmente ignorando seu orgulho. O rapaz, ainda munido de seu artefato de estimação, volta a descer do carro. Mãos na cintura, inconformismo em seu olhar. "Não tem nada nos carros, sai logo daí mulher". Os motores voltam a rosnar incessantemente e há uma nova esperança de confusão. Nada acontece. A senhora continua maldizendo seus antagonistas. Já farto desta situação, surpreendentemente, o outro motorista abandona o volante de seu veículo e parte rapidamente contra sua arquiinimiga. Incorporando uma fúria medieval, despeja violentos golpes contra o capô opositor, sacolejando a si e à toda estrutura do automóvel. Não há uma razão nítida para a ação. Seu rosto avermelha-se, "Se não tinha nada amassado agora tem". Homem versus máquina em sua forma mais primata. Rapidamente, retorna à sua carroagem de ferro junto de seu companheiro de óculos, e dispara em alta velocidade rumo à salvação. Assim, a humanidade celebra a chegada do feriado em grande estilo.



Tenho que aprimorar um pouco este relato mas putz, mais um passeio noturno que rende uma história bizarra. Vou começar a sair todo dia por aí para retratar, quem sabe, possíveis retornos mais diretos à Idade Média. Era tão mais fácil resolver os problemas naquela época né? Viva los hombres!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Descrição de um anônimo.

Praça de alimentação do hipermercado Extra, o canto inferior esquerdo do estabelecimento. Uma parede de vidro espelhado impede que se enxergue o trânsito da rua adjacente ao local. Do lado oposto, os inúmeros caixas atendendo à velocidade total. A estrutura metálica do teto é toda aparente. Nela estão penduradas 18 lâmpadas, distribuídas em 6 linhas e 3 colunas, iluminando o local, juntamente com tubulações enormes de circulação de ar, facilitando a respiração. Pouco menos de metade das 12 mesas, todas com um tampo de granito e se alternando entre quadradas e redondas, se encontram ocupadas. As cadeiras são altamente desconfortáveis. Algumas lixeiras, abarrotadas de detritos alimentares, dizem obrigado. Inúmeras placas iludem a visão dos consumidores. "O preço não se discute", "Orgulho de ser brasileiro", "Mais qualidade, mais barato", "Participe, você pode ganhar". À direita das mesas surgem as escadas rolantes, vindas do estacionamento. Antes mesmo de chegar à praça há um detector de código de barras, para possíveis furtos, incomodando os visitantes.
Do hipermercado surge uma jovem moça. Seus cabelos crespos estão presos por 5 presilhas douradas. Sua pele é morena e seu porte físico almeja a obesidade. Seu rosto apresenta bochechas notavelmente redondas, um nariz de largas aberturas nasais e um perturbador rastro de bigode. Sua testa se esparrama por seu semblante, refletindo a iluminação local, com pequenas cicatrizes sebáceas. Em suas orelhas, pequenos e brilhantes brincos. Veste um tomara-que-caia rosa e uma calça de lycra preta e desbotada, ambos não favorecendo seus dotes. Calça sandálias que um dia já foram brancas. Ela carrega um bebê em seus braços. Ao sentar-se em uma cadeira, começa a amamentá-lo. O bebê responde bem ao estímulo alimentar. Neste processo, ela se balança em um vai-e-vem incessante. Está pensativa. Observa com cautela o movimento de pessoas próximo às escadas rolantes. Em seu corpo, marcas de biquíni desgastadas. As unhas de suas mãos e de seus pés estão para se fazer. Em um dos seus dedos, um possível anel de compromisso. Haveria um pai para essa criança? Seus braços são fortes, robustos. O direito apresenta a tradicional marca de vacina. Após o bebê terminar sua refeição, se aproxima dele, bocejando, inclina-se de forma pouco saudável à sua coluna, e brinca com sua diminuta mão. Seu pescoço se enruga. Pega o pano encardido de seu filho e limpa sua boca. Seu braço se mexeu. Não era um anel de compromisso. Em um instante, arruma suas coisas e se apronta para ir embora. Ao levantar-se, um grande traseiro se revela, e ela abandona o recinto.



Trabalho para a faculdade que achei interessante compartilhar. A idéia do professor é descrever uma pessoa que você nunca viu na vida, dentro de um ambiente fechado. Juntamente com a descrição deste anônimo, deveríamos descrever também o local, a cena, propriamente dita.

Glass Casket - A Desperate Man's Diary

"Genesis"


I feel that each year repeats itself, only with their minor setbacks
Today is her day, and God is not holding anything back
The sky is gray, the trees are dead, and the air is cold and hollow
Each time I swallow, this know in my throat grows swollen and more swollen
My hills have turned into mountains and my streams into rivers
There is nothing beautiful about this day
No way to glorify this day, there is nothing now
Except I know this pain won't go away.


Link para o download deste excepcional álbum!!!

domingo, 18 de março de 2007

Quanto tempo ainda tenho?


Um... dois... três... quatro...
Conto até dez se der tempo!
Será que dá tempo?
Vai dar tempo!
Tempo! Tempo! Tempotem! Potem! POTEM!!!!
Tenho que estar aqui para não estar ali.
Vou me apressar para não chegar lá.
Mas não vai dar tempo, nunca dá.
O relógio é mais rápido do que moi.
Ele corre e eu ando.
Será que dá tempo?
É, não vai dar tempo...

sábado, 17 de março de 2007

Conflito juvenil.

Depois que a faculdade começou tenho me sentido completamente desestimulado a escrever qualquer coisa. Um dos autores estudados fala que tudo que desejamos e gostamos é fruto de algo maior, concebido a partir da hegemonia capitalista, ou seja, destrói qualquer perspectiva de autonomia. O outro acaba com qualquer esperança que possamos vir a ter para projetar algum tipo de futuro aceitável pois o próprio ser humano, abarrotado de falhas e com o desejo de auto-destruição inerente ao seu subconsciente, não permitirá a construção do mesmo. Já sicrano consegue transcrever com maestria tudo que queremos mas não conseguimos, desestimulando qualquer um a tentar demonstrar seu ponto de vista de uma forma até então inédita. Que merda é essa? Tudo já foi estudado e estipulado? Não há um jeito de escapar deste terrível destino apocalíptico que parecemos estar encaminhados? Estou muito dividido entre apreciar o intelecto desses caras ou de odiá-los por de fato apurarem a consciência humana! Será que o conhecimento do funcionamento da sociedade e de suas peças servirá para alguma coisa mesmo, já que iremos todos para a mesma vala pública, ricos e pobres, cultos e ignorantes? Cocô!!!

- Valeu babacão!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Parecia um precipício mas na verdade era água.

Ela extravasa sobre você e a todo instante lhe fita, insinuando alguma grandeza. Vem em ondas, mandando o seu ceticismo para as alturas. O problema de se achar pequeno, mais que o tamanho diminuto, é a perspectiva que se tem lá de baixo. Não dá pra ver muito além do barro no sapato e da calça rasgada. Mas puxa vida, quanta coisa há além do barro! Você martiriza quem nunca quis se tornar um mártir pra ninguém, entende? A ilusão do pedestal. Mesmo assim, seria muito pedir um pouco de sinceridade? Seria pedir demais pela extinção desses falsos cognatos que colocam minhocas, vermes, lombrigas e tudo que se tem direito na cabeça das pessoas? A questão não é simpatia, carisma, boa vontade, misericórdia (quem sabe), mas sim se deixar levar por um pouco de humanidade. Há horas de se lembrar e há horas de se esquecer do próprio umbigo, e me parece que está tudo trocado! Apesar de minhas desilusões, parecia um precipício mas na verdade era água, água que lavou meu rosto e minha alma.