...vai, mais rápido, apoteose da civilização.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Descrição de um anônimo.

Praça de alimentação do hipermercado Extra, o canto inferior esquerdo do estabelecimento. Uma parede de vidro espelhado impede que se enxergue o trânsito da rua adjacente ao local. Do lado oposto, os inúmeros caixas atendendo à velocidade total. A estrutura metálica do teto é toda aparente. Nela estão penduradas 18 lâmpadas, distribuídas em 6 linhas e 3 colunas, iluminando o local, juntamente com tubulações enormes de circulação de ar, facilitando a respiração. Pouco menos de metade das 12 mesas, todas com um tampo de granito e se alternando entre quadradas e redondas, se encontram ocupadas. As cadeiras são altamente desconfortáveis. Algumas lixeiras, abarrotadas de detritos alimentares, dizem obrigado. Inúmeras placas iludem a visão dos consumidores. "O preço não se discute", "Orgulho de ser brasileiro", "Mais qualidade, mais barato", "Participe, você pode ganhar". À direita das mesas surgem as escadas rolantes, vindas do estacionamento. Antes mesmo de chegar à praça há um detector de código de barras, para possíveis furtos, incomodando os visitantes.
Do hipermercado surge uma jovem moça. Seus cabelos crespos estão presos por 5 presilhas douradas. Sua pele é morena e seu porte físico almeja a obesidade. Seu rosto apresenta bochechas notavelmente redondas, um nariz de largas aberturas nasais e um perturbador rastro de bigode. Sua testa se esparrama por seu semblante, refletindo a iluminação local, com pequenas cicatrizes sebáceas. Em suas orelhas, pequenos e brilhantes brincos. Veste um tomara-que-caia rosa e uma calça de lycra preta e desbotada, ambos não favorecendo seus dotes. Calça sandálias que um dia já foram brancas. Ela carrega um bebê em seus braços. Ao sentar-se em uma cadeira, começa a amamentá-lo. O bebê responde bem ao estímulo alimentar. Neste processo, ela se balança em um vai-e-vem incessante. Está pensativa. Observa com cautela o movimento de pessoas próximo às escadas rolantes. Em seu corpo, marcas de biquíni desgastadas. As unhas de suas mãos e de seus pés estão para se fazer. Em um dos seus dedos, um possível anel de compromisso. Haveria um pai para essa criança? Seus braços são fortes, robustos. O direito apresenta a tradicional marca de vacina. Após o bebê terminar sua refeição, se aproxima dele, bocejando, inclina-se de forma pouco saudável à sua coluna, e brinca com sua diminuta mão. Seu pescoço se enruga. Pega o pano encardido de seu filho e limpa sua boca. Seu braço se mexeu. Não era um anel de compromisso. Em um instante, arruma suas coisas e se apronta para ir embora. Ao levantar-se, um grande traseiro se revela, e ela abandona o recinto.



Trabalho para a faculdade que achei interessante compartilhar. A idéia do professor é descrever uma pessoa que você nunca viu na vida, dentro de um ambiente fechado. Juntamente com a descrição deste anônimo, deveríamos descrever também o local, a cena, propriamente dita.

Glass Casket - A Desperate Man's Diary

"Genesis"


I feel that each year repeats itself, only with their minor setbacks
Today is her day, and God is not holding anything back
The sky is gray, the trees are dead, and the air is cold and hollow
Each time I swallow, this know in my throat grows swollen and more swollen
My hills have turned into mountains and my streams into rivers
There is nothing beautiful about this day
No way to glorify this day, there is nothing now
Except I know this pain won't go away.


Link para o download deste excepcional álbum!!!

domingo, 18 de março de 2007

Quanto tempo ainda tenho?


Um... dois... três... quatro...
Conto até dez se der tempo!
Será que dá tempo?
Vai dar tempo!
Tempo! Tempo! Tempotem! Potem! POTEM!!!!
Tenho que estar aqui para não estar ali.
Vou me apressar para não chegar lá.
Mas não vai dar tempo, nunca dá.
O relógio é mais rápido do que moi.
Ele corre e eu ando.
Será que dá tempo?
É, não vai dar tempo...

sábado, 17 de março de 2007

Conflito juvenil.

Depois que a faculdade começou tenho me sentido completamente desestimulado a escrever qualquer coisa. Um dos autores estudados fala que tudo que desejamos e gostamos é fruto de algo maior, concebido a partir da hegemonia capitalista, ou seja, destrói qualquer perspectiva de autonomia. O outro acaba com qualquer esperança que possamos vir a ter para projetar algum tipo de futuro aceitável pois o próprio ser humano, abarrotado de falhas e com o desejo de auto-destruição inerente ao seu subconsciente, não permitirá a construção do mesmo. Já sicrano consegue transcrever com maestria tudo que queremos mas não conseguimos, desestimulando qualquer um a tentar demonstrar seu ponto de vista de uma forma até então inédita. Que merda é essa? Tudo já foi estudado e estipulado? Não há um jeito de escapar deste terrível destino apocalíptico que parecemos estar encaminhados? Estou muito dividido entre apreciar o intelecto desses caras ou de odiá-los por de fato apurarem a consciência humana! Será que o conhecimento do funcionamento da sociedade e de suas peças servirá para alguma coisa mesmo, já que iremos todos para a mesma vala pública, ricos e pobres, cultos e ignorantes? Cocô!!!

- Valeu babacão!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Parecia um precipício mas na verdade era água.

Ela extravasa sobre você e a todo instante lhe fita, insinuando alguma grandeza. Vem em ondas, mandando o seu ceticismo para as alturas. O problema de se achar pequeno, mais que o tamanho diminuto, é a perspectiva que se tem lá de baixo. Não dá pra ver muito além do barro no sapato e da calça rasgada. Mas puxa vida, quanta coisa há além do barro! Você martiriza quem nunca quis se tornar um mártir pra ninguém, entende? A ilusão do pedestal. Mesmo assim, seria muito pedir um pouco de sinceridade? Seria pedir demais pela extinção desses falsos cognatos que colocam minhocas, vermes, lombrigas e tudo que se tem direito na cabeça das pessoas? A questão não é simpatia, carisma, boa vontade, misericórdia (quem sabe), mas sim se deixar levar por um pouco de humanidade. Há horas de se lembrar e há horas de se esquecer do próprio umbigo, e me parece que está tudo trocado! Apesar de minhas desilusões, parecia um precipício mas na verdade era água, água que lavou meu rosto e minha alma.