...vai, mais rápido, apoteose da civilização.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Mea culpa!

Protótipo de noite na obtusa zona noroeste da cidade de São Paulo. O trânsito é constante pois a população possui uma queda por voltar às suas casas. Burocraticamente, uma avenida qualquer curte a movimentação ao longo de sua extensão. Jogadores semi-profissionais se dirigem ao campinho de areia. O pagode ecoa por todo o quarteirão enquanto missionários evangélicos da igreja quadrada-elíptica-semi-circular se preparam para mais uma celebração ao príncipe da paz. O clima está agradável e não há muitos ônibus circulando para maltratar ainda mais os calos e crateras da já tão danificada cútis negra rodoviária. Uma bifurcação adiante desconhece a notável palestra de dramaturgia que iria observar em instantes.
Dois automóveis, trafegando junto ao fluxo, se estranham antes mesmo de se conhecerem. O trânsito se interrompe e o silêncio é ostracizado com o surgimento de inúmeras buzinas. Um conglomerado de pedestres foca sua atenção no espetáculo. Ambos os veículos ignoram qualquer resquício de cordialidade ainda presente no cotidiano e se encaram fervorosamente, rosnando um para o outro. Há ameaças de movimento inconcluídas. A inércia se rompe com advento de uma senhora, motorista de um dos carros. Ela dá inicio a um expansivo discurso sobre culpa e intenção, em plena via, gesticulando com eloquência. A platéia está confusa, a origem do desentendimento ainda é uma incógnita, mas quem se importa, "Queremos ver sangue". Porém, é do outro carro que brota o possível messias deste impasse, um rapaz de óculos sustentando uma espécie de pé-de-cabra em suas mãos. Que virilidade! O homem analisa a integridade de seu veículo minuciosamente e dispara um olhar mortífero contra sua algoz. Assustada, ela recua em prol de sua segurança. O outro, ainda sustentando uma postura ofensiva porém pouco messiânica, também retorna à seu automóvel. Os espectadores se desapontam.
Mas, logo em seguida, uma nova crise se instaura. Quem iria mover seu veículo primeiro? Não seria possível decidir isso simplesmente ignorando seu orgulho. O rapaz, ainda munido de seu artefato de estimação, volta a descer do carro. Mãos na cintura, inconformismo em seu olhar. "Não tem nada nos carros, sai logo daí mulher". Os motores voltam a rosnar incessantemente e há uma nova esperança de confusão. Nada acontece. A senhora continua maldizendo seus antagonistas. Já farto desta situação, surpreendentemente, o outro motorista abandona o volante de seu veículo e parte rapidamente contra sua arquiinimiga. Incorporando uma fúria medieval, despeja violentos golpes contra o capô opositor, sacolejando a si e à toda estrutura do automóvel. Não há uma razão nítida para a ação. Seu rosto avermelha-se, "Se não tinha nada amassado agora tem". Homem versus máquina em sua forma mais primata. Rapidamente, retorna à sua carroagem de ferro junto de seu companheiro de óculos, e dispara em alta velocidade rumo à salvação. Assim, a humanidade celebra a chegada do feriado em grande estilo.



Tenho que aprimorar um pouco este relato mas putz, mais um passeio noturno que rende uma história bizarra. Vou começar a sair todo dia por aí para retratar, quem sabe, possíveis retornos mais diretos à Idade Média. Era tão mais fácil resolver os problemas naquela época né? Viva los hombres!

4 comentários:

Anônimo disse...

foi assim mesmo, corretíssimo.
seria legal se existem armas de fogo.

talvez, não sei.

*Paula Fazzio* disse...

Oi bruno!
então, vi pelo blog do Gabriel mesmo!
adorei o seu
vou até adicionar nos meus links.
Passarei aqui sempre que possível!
um bjo

Anônimo disse...

E de pensar que essas histórias acontecem todos os dias, todo o tempo debaixo do meu nariz e eu nem percebo.
=*

Gabriel Dudziak disse...

PQP! Isso aconteceu mesmo?! My god! Leve a máquina no próximo rolê! haha

Abracos